Depois de 12 meses de queda a produção de leite mergulha no prejuízo, mostram os Índices IFCN de Preços e Custos de abril

O gráfico com a série histórica iniciada em 2007, deixa evidente a grave situação do setor. O aumento dos preços dos insumos a partir do segundo semestre de 2020 não foi acompanhado pelas cotações das commodities lácteas.

Quando enfim a queda na produção de leite em grandes regiões exportadoras forçou a elevação dos preços das commodities, a demanda enfraqueceu, principalmente da China, e a cotação das commodities despencou. A trajetória de queda vem logo após os valores recordes de março e abril de 2022, sem, contudo, haver um movimento idêntico nos custos de produção, que continuaram sendo pressionados pelos efeitos do conflito Rússia e Ucrânia, além de seca em muitos países da União Europeia (UE) e América do Sul, inundações na Austrália e Nova Zelândia.

Assim, em abril de 2023, o índice IFCN de Preços ficou abaixo do índice IFCN de Custos, o que representa prejuízo para o produtor.

O aumento sazonal da produção de leite no hemisfério norte nos meses de abril e maio apontam para mais quedas no preço do leite ao produtor, com estabilização dos custos. Os percentuais de queda interanual seguem essa tendência. 

É bom ressaltar que o Índice IFCN de custos só leva em consideração os preços de insumos da alimentação – soja e milho – não contemplando, por exemplo, os gastos com energia que tiveram os preços inflacionados no último ano. 

O último levantamento disponível sobre os custos de produção e preço do leite em alguns países europeus e a média europeia divulgados pelo comitê EMB, que representa o setor lácteo da UE, é de 2021. Os custos apurados pelo EMB incluem fertilizantes e energia, além dos insumos para alimentação animal.

Os números mostram os grandes desafios enfrentados pelos produtores no velho continente, mas que foram agravados posteriormente. Em fevereiro de 2022, quando a relação entre os Índices IFCN de Preços e Custos (A/B) era de 1,66, explodiu o conflito Rússia e Ucrânia e suas consequências, que levaram a mais instabilidade econômica para a Europa.  

Desde então houve queda contínua da rentabilidade, até mergulhar em prejuízo, colocando em xeque a sustentabilidade e sobrevivência do setor como um todo, já que sem a atividade primária o restante da cadeia desaparece.

No mês em que se comemora o Dia Internacional do Leite, as perspectivas futuras da cadeia não são muito promissoras.

No Brasil, o sinal de alerta também já está dado. Analisando o gráfico, observa-se que a captação de leite pelas indústrias, em 2022, foi ligeiramente maior do que a de 2013 e menor do que a de 2014.

No primeiro trimestre de 2023, houve queda de 1,4% em relação ao mesmo período de 2022. Isto representa uma estagnação de dez anos.

NOTAS   

- O Índice IFCN de preços é uma combinação dos preços médios de uma cesta de commodities lácteas negociadas no mercado mundial.

Representa o quanto uma indústria poderia, teoricamente, remunerar seus produtores, se os produtos lácteos fossem vendidos com as cotações vigentes no período.

Para janeiro de 2023, o indicador IFCN de preços foi elaborado com a seguinte proporção de produtos: 1 – Leite em pó desnatado & Manteiga (32%); 2 – Queijos e Soros de leite (51%); e 3 – Leite em pó integral (17%). Esses percentuais são reavaliados trimestralmente, e correspondem à média ponderada dos produtos negociados no mercado internacional no trimestre.

- O Índice IFCN de custos representa o nível dos preços no mercado mundial dos principais insumos para ração, farelo de soja e milho.

A relação entre o Índice IFCN de preços e o Índice IFCN de custos, indica a rentabilidade teórica do produtor.

De uma forma simplificada, mostra quantos quilos de ração o produtor poderia comprar com a venda de um quilo de leite. A relação Índice IFCN de preços/Índice IFCN de custos maior que 1,5 é considerada favorável à atividade. 

Por outro lado, se a razão for caindo em direção a 1, ou menos, a utilização de concentrados para produção de leite pode significar aumento do prejuízo e a atividade caminha para a falta de rentabilidade, tornando-se insustentável.  

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