SELECTUS - O diário do Leite – Um Conjunto de Editoriais, quais:
ESTATISTICAS DE INTERESSE DA CADEIA LÁCTEA
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ESTATISTICAS DE INTERESSE DA CADEIA LÁCTEA
Sustentabilidade – Seduzidos com a perspectiva de garantir renda, os agricultores se lançam na produção de biogás e instalam biodigestores. A Reporterre fez uma pesquisa sobre essa prática subsidiada, que gera muitos questionamentos.
François Trubert, que produz leite há vinte anos, fez parte da primeira geração que investiu em biodigestor. Foi em 2011, depois de cinco anos de reflexão. “Ser produtor de leite é minha paixão, mas, financeiramente não compensa. Eu queria aumentar minha renda, ganhar qualidade de vida, e ter finais de semana”, diz ele. Sete anos depois, o projeto foi realizado.
Agora, como produtor de leite, cereais e criador de frangos, ele gera gás, neste caso o metano. O sistema custou um milhão de euros de investimentos. Sua fazenda, que está localizada 15 km ao norte de Rennes, em Gévezé, também mudou o ritmo. “Graças aos biodigestores, contratei duas pessoas, comprei um robô para a ordenha e tenho três finais de semana livres por mês. Sem o biodigestor, a fazenda não existiria mais, conta ele, que foi carpinteiro antes de ser agricultor. Eu não poderia ter continuado por causa dos custos trabalhistas e o baixo preço do leite”. No entanto, Hervé Gorius, conselheiro técnico da câmara Britânica de Agricultura diz que “o sistema não é uma solução milagrosa. Destina-se, principalmente, aos agricultores cuja exploração está em boa saúde financeira para poder investir”.
“Eu valorizo os rejeitos da fazenda, transformados em matéria-prima”
A fermentação anaeróbica consiste em alimentar o biodigestor com esterco animal misturado com matéria orgânica. Esse equipamento aquecerá a mistura a 38ºC por 40 dias, ou dependendo do tipo de instalação, até 200 dias. O metano é retirado do biodigestor e em seguida, convertido em eletricidade que é conectada à rede. O calor gerado pelo dispositivo é usado para aquecer a fazenda. A massa final é um concentrado de nitrogênio, fósforo e microrganismos que será utilizado como fertilizante, completando o ciclo. “É a valorização dos resíduos da fazenda, que são transformados em recursos, fala entusiasmado François Trubert. Praticamente não compro nenhum fertilizante, porque eu faço. Minha fazenda é autossuficiente.
Um sucesso que se espalha: O ministério da Transição Ecológica e Solidariedade tem a relação de 646 unidades de biogás na França. As regiões Grand Est, Hauts-de-França e Bretagne são pontas de lança deste novo setor de produção de energia. A Bretagne é o melhor lugar para a instalação de biodigestores porque além de terras férteis, consome mais energia do que produz. Para incentivar o investimento, foi lançado o plano Biogaz para a região, em complemento à lei de transição energética para o crescimento verde de 2015. A Bretagne já conta com 81 unidades com biodigestor, “notadamente instalações agrícolas com potência que varia de 100 a 150 kW”, disse Hervé Gorius. Mas, em Pays de la Loire, muitos agricultores fazem grupos para montar um biodigestor comum”, acrescentou Hervé.
Se o sistema se desenvolve bem, é porque tem o incentivo do poder público. As subvenções ficam na ordem de 20%, e existe o preço de compra garantido. Para biodigestores com capacidade menor do que 250 kW, a tarifa é de € 0,18/kWh, e € 0,165/kWh para os de potência superior a 250 kW. Acrescente-se aí a bonificação por efluentes: Se o biodigestor for alimentado com mais de 60% de resíduos e estercos da fazenda, existe um acréscimo de € 0,04/kWh.
Além disso, os contratos têm prazos de 20 anos, com preço garantido.
“De qualquer forma, eu não tenho paixão pelo leite”
Stéphane Bodiguel, produtor de leite que instalou um biodigestor resume a equação: “Entre um preço de leite que não é garantido e que em certos momentos fica abaixo do custo de produção e o preço do gás, estável e garantido, não há o que pensar”. Implantou no Sul de Ille-et-Vilaine, um biodigestor de 610 kW. Com o calor liberado ele cultiva a spirulina, uma microalga que está na moda. E no verão de 2019 ele deixará de produzir leite. “De qualquer forma, eu nunca fui apaixonado por leite”.
O cenário parece atraente, de um lado o aumento do faturamento graças à produção de gás nas fazendas. Uma incorporação da economia circular, a “bioeconomia”. De outro lado, maior ambição dos agricultores. Atualmente o gás da pecuária representa 0,25% do consumo total de gás da França, e o governo quer aumenta-lo para 10% até 2030. O plano de energia por fermentação anaeróbica de 2013 estabeleceu o objetivo de ter 1.000 biodigestores instalados até 2020.
Em um estudo de 2014, a Agência de meio ambiente e de matriz energética (Ademe) propôs cenários para o crescimento de energias renováveis na matriz energética. Estão reunidos 17 pesquisadores de diversas áreas (agrônomos, hidrólogos, radiologistas, físicos ... etc) interessados nestes números. De acordo com os cálculos, se alguém quiser atingir a produção de 60 TWh de produção por fermentação anaeróbica em 2030, ele deverá dedicar 100% da área agrícola de três departamentos que são utilizados em culturas de cereais intermediários. De fato, esterco não é suficiente alimentar o biodigestor. É preciso alimentar com culturas intermediárias, cortadas em plena floração. O alto teor de açúcar e carbono os torna ingrediente necessário para a fermentação anaeróbica.
Fertilizante ou veneno?
Essa perspectiva se confirma com análise recente feita pela Ademe sobre as perspectivas da matriz energética de 2020-2060. Apesar de retornos interessante, o processo também trás preocupações. De fato, os projetos se multiplicam por todos os lados na França e os críticos também, muitas vezes por acreditarem que haverá o aumento da circulação de caminhões e odores. Uma porção de prefeitos de Seine-et-Marne, são favoráveis à instalação de biodigestores, mas, não de utilizar o adubo resultante.
Porque o questionamento do produto final? O que exatamente contém? É realmente um bom fertilizante ou um veneno? Estudos mostram que o biodigestor é semelhante a um ninho de bactérias, e se desenvolvem em abundância. Esse produto espalhado nos campos gera preocupações sobre as consequências na qualidade solo, da água e, principalmente, da água que bebemos.